segunda-feira, 24 de março de 2014

Ninguém é inocente. Ou: rindo de tanto chorar.



Embora não devesse, estou rindo com a exposição de parte da podridão petista vindo à tona com a revelação de algumas das maracutaias deles, petistas, na Petrobras.
É um riso amargurado e maníaco de quem ri da própria desgraça, mas é também uma válvula de escape para toda a frustração e desespero vendo, nesses quase doze anos, os brasileiros sendo cúmplices, pela ação e pela omissão, da escória que são os petistas destruindo o Brasil.
Quantas discussões que tive, com muita gente, desde a campanha de 2001, sobre essa cambada.
Meu principal argumento naquela época acabou se mostrando totalmente correto. Era até simples: eu dizia que o fato de Luís Inácio da Silva, vulgo Lula, ter divulgado a tal carta aberta aos brasileiros era bastante para demonstrar o quanto ele e sua corriola eram desprovidos de qualquer caráter. Ninguém passa anos e anos, dizia eu, pregando uma ideologia, apresentando-a como a salvação do país, da humanidade, o diabo que seja, e de repente se desfaz dela, com a simplicidade de quem bebe água, para abraçar exatamente aquilo que até ontem combatia ferrenhamente, se não for movido por interesses muito diferentes, e inconfessáveis, daqueles que anuncia aos quatro ventos.
A resposta que recebia era sempre a mesma: todos têm direito de mudar. Eu rebatia em vão que aqueles, se estavam mudando em alguma coisa, era no disfarce sob o qual queriam atingir seu objetivo único: poder.
Quantas e quantas vezes fiquei perplexa vendo todos aceitarem as mentiras sobre um período que todos tinham acabado de viver, ou compactuando ou se calando. Nunca o brasileiro foi tão “povo”, esse ente amorfo, quanto durante esses doze anos. Desde o catador de lixo reciclável e a varredora de rua até o economista e a analista política, passando por advogados, médicos, professores, engenheiros, mecânicos, pedreiros, jornalistas, caminhoneiros, faxineiras, apresentadores de programas televisivos, desempregados, todos foram “povo”, essa manada tão facilmente conduzida por mentiras e manipulações e se sentindo felizes com isso.
E por que não se sentiriam? As mentiras falavam o que queriam ouvir e as manipulações lhes tirava dos ombros a responsabilidade de ter que reagir. Ofereciam as condições para o momento em que tudo acabasse da única maneira que podia acabar, em desastre e ruína, de posarem de vítimas, de enganados.
Saber que o PT que chegou ao poder era e é composto por um bando de saqueadores, todos sempre souberam. O “acidente” do vulgar Lula quando fazia de conta que trabalhava como torneiro mecânico foi tão claramente uma armação que provavelmente ninguém ficou mais surpreso que ele quando viu que todos caíram como patinhos. Pode ter sido essa a primeira vez que ele percebeu como era fácil enrolar os trouxas.
José Dirceu nunca escondeu de ninguém o canalha que é, basta ver a sem-cerimônia com que meteu um pé na bunda de sua esposa tão logo foi assinada a Anistia, tendo vivido com ela um bom tempo sem dizer quem era.
Aliás, Dirceu sempre foi, para mim, a referência do caráter, ou mais apropriadamente, da falta de caráter do vulgar Lula. Um homem que aceita conviver com alguém tão ordinário, que fez de Dirceu peça chave nas suas manobras para chegar ao poder, vale ainda menos que Dirceu.
Todos que tinham um mínimo de acesso às informações sabiam essas coisas, se eu, aqui no meu canto, sabia. Sabiam até muito mais. Fizeram de conta que acreditaram que a corriola tinha mudado. Rá!
A arraia miúda, o populacho, aceitou se rebaixar à condição de dependente de esmola. Qualquer pessoa tem condição de saber que viver de esmola rebaixa o ser humano. Aceitar ajuda pontual enquanto não se tem condições de melhorar a vida por conta própria é coisa muito diferente de se achar esperto, da sensação de “estou me dando bem” recebendo todo dinheiro que puder arrancar do governo. Conheço uma porção de gente que faz questão de não ter registro em carteira, para poder continuar recebendo bolsa-esmola.
Igualmente, em algum nível de consciência essa gente sabe que aquele que dá a esmola não tem o menor respeito pelo que recebe, se esse passa a ser o estado permanente. Como sabe que, aceitando receber a esmola envolta no desprezo, aceita também que estará em dívida com quem lhe dá a esmola e que terá de pagar essa dívida com o que lhe restar de sentimento de honra; terá que se vender.
Vezes sem conta ouvi que a Petrobras é nossa; que privatizá-la era dar de mão beijada nosso patrimônio. E isso vindo não de algum tabaréu de fim de mundo, mas de gente supostamente bem informada. Que piada, essa! No que tange á Petrobras, nossos são os custos de ela ser uma empresa do Estado, nossos são os custos da roubalheira, os custos do loteamento de cargos para garantir que apaniguados continuem garantindo a sangria de recursos dos impostos, de uma maneira ou de outra. Nossos são os custos de garantir um mínimo de dividendos para os que foram trouxas o suficiente em adquirir ações de uma empresa gerida pelo Estado. Estes trouxas mereceram ter suas ações desvalorizadas em ritmo vertiginoso, apesar de tudo. Colaboraram para manter a mentira de que a Petrobras é nossa; alienação tem limites e cobra caro, numa situação assim.
Deixar uma empresa do porte da Petrobras nas mãos de políticos que uma vez eleitos são deixados livres para agir como bem queiram e entendam é pedir para ser feito de besta. E foi isso que os acionistas minoritários fizeram, permitindo que o Estado detivesse o controle da Petrobras. Mas nós pagamos as contas. Trouxas à revelia. Ou não, já que a maioria acha que a empresa é “nossa”.
Como a maioria também achou que o vulgar Lula foi o responsável por não termos sido atingidos mais duramente pela crise de 2008, mesmo sabendo que ele nunca fez nada de útil durante os anos em que exercera a presidência até aquela data; só para constar, continuou sem fazer nada de útil depois também, mas iniciou uma ação que ainda vai cobrar um custo tremendo, o endividamento sem lastro, pelo estímulo à concessão de crédito ao povão, para comprar carros e eletrodomésticos.
Mesmo com os supostos entendidos sabendo que foram as medidas tomadas no governo anterior que mantiveram o país mais ou menos a salvo.
A maioria também achou que Dilma Rousseff era uma supercompetente gestora, mesmo sabendo que ela falira uma loja de 1,99, que mentira sobre ter um doutorado em Economia. Aliás, tendo em vista a quantidade de mentiras deslavadas que essa cambada vem contando acaba sendo sintomática a disposição de caráter do povo brasileiro, pela facilidade com que são engolidas.
O resultado disso tudo está aí: em dois anos a Petrobrás caiu da posição 12ª no ranking mundial de empresas do setor para a 120ª; em dois anos perdeu mais da metade do valor: de 380 bilhões de dólares avaliados em 2010 está atualmente em 179 bilhões e caindo com tendência a despencar já que a situação está tão escabrosa que não é mais possível ignorar as maracutaias do PT na empresa, considerando que o que se sabe até agora é só a ponta do iceberg.
O que apareceu até agora dá conta que a Petrobras comprou metade de uma refinaria em Pasadena, Califórnia, em 2006 por 360 milhões de dólares; a empresa vendedora havia comprado a refinaria inteira, no ano anterior, por 42 milhões de dólares; por contrato, estava obrigada a comprar a outra metade caso houvesse desentendimentos entre as partes. Houve o desentendimento: a Petrobras se comprometera a garantir rentabilidade de 6,9% ao ano para a dona da outra metade, independente das condições de faturamento. Como isso seria absurdo até se a refinaria estivesse rendendo muitíssimo bem, por contrato a Petrobras estava obrigada a comprar a outra metade. Dilma resolveu ir à justiça, perdeu e a empresa teve que desembolsar mais 820 milhões de dólares.
Nunca houve uma supercompetente gestora como Dilma Rousseff: adquiriu para a nação uma empresa que em 2005 custou 42 milhões de dólares por um preço final, em 2012, de mais de um bilhão de dólares, com vários penduricalhos suspeitos no meio da historia. Mesmo que não sejam procedentes os fortes indícios de sujeira da grossa nesse negócio, resta o fato de que foi pessimamente gerido. Fosse uma empresa privada todos os responsáveis estariam no olho da rua.
Mas a Petrobras é nossa; nosso é o endividamento dela, que de 118 bilhões de dólares no fim de 2010 já está em 300 bilhões de dólares. Nossa é a conta a pagar pelo déficit imposto pela cambada do PT, de mais de vinte bilhões de dólares, por ter que importar petróleo e vende-lo aqui por menos do que o que se pagou, para tentar controlar a inflação.
Pois num lugar em que as pessoas acreditam numa Dilma supercompetente gestora é assim, somos autossuficientes em petróleo, mas temos que importa-lo.
Seria cômico se não fosse trágico: as pesquisas indicam que essa mulher será reeleita.
É por isso que rio, do tanto que tem para chorar. Se isso não faz sentido, sem problemas. Aqui no Brasil nada faz sentido mesmo.

segunda-feira, 17 de março de 2014

A Quimera no Espelho.



Leio que um vereador do município de Antônio Prado, no Rio Grande do Sul  exigiu, durante sessão da câmara a exoneração de uma funcionária que manifestou publicamente ser ateia.
É em situações como essa que me vem à mente os crentes (e muitos não crentes também) que usam o termo “neoateu” para referir-se a ateus que se manifestam a respeito de coisas como Deus, fé, religião.
Esse termo, neoateu, esconde uma série de reclamações e embustes de crentes e dos ateus que se querem “moderados”, mas que são apenas subservientes à condescendência dos crentes no que respeita ao “direito” de não se professar crença alguma.
As aspas na palavra direito remetem à citada condescendência: sendo os crentes maioria, consideram a existência de não crentes uma anomalia que deve ser mantida o mais oculta possível. Em outras palavras, não se trata de direito, mas de favor.
Uma reclamação típica dessa gente versa sobre a desnecessidade de ateus se dedicarem a falar e escrever sobre algo em que não acreditam.
O subtexto aí é: ateus que manifestam publicamente as razões da sua não crença são intolerantes radicais cujas intenções são suprimir o direito a crença e exterminar todas as formas e práticas da mesma, substituindo o sistema de valores cristãos pela imposição do sistema de valores seculares, o qual inevitavelmente levará à dissolução da civilização ocidental.
Sobre isso apenas uma coisa pode ser dita, se a intenção é preservar a propriedade dos fatos:
A todo aquele que queira sustentar a veracidade da autoria cristã dos valores morais vigentes na civilização ocidental solicita-se que demonstre com provas a inexistência de tais valores e de sua prática antes do advento do cristianismo. Simples assim.
Aduzindo que cristãos vivem, na prática, de acordo com o sistema secular de valores dos quais são herdeiros e representantes tanto quanto os ateus.

A alegação referente às intenções dos ateus requer uma explanação mais ampla, começando pela definição do que seja um ateu, tanto na acepção mais direta quanto numa perspectiva mais abrangente.
A primeira definição remete simplesmente àquele ou àquela que não creem na existência de deuses quaisquer. Idealmente a coisa deveria encerrar-se nisso: pessoas que creem em um deus e pessoas que não creem.
Sabemos todos que a questão não é simples e inofensiva assim, como querem fazer parecer os que reclamam dos ateus falando e escrevendo a respeito de crenças e afins. 
Ou a funcionária da prefeitura de Antônio Prado não estaria sendo punida por dizer que não crê no deus cristão, sendo esse caso apenas um entre muitos e vários tipos de intolerância ao não crente. Ou um apresentador de programa sensacionalista de televisão, diga-se de passagem, com poder de influenciar uma camada significativa da população mais inculta e, portanto mais suscetível à manipulação ideológica, não associaria a imagem de criminosos perigosos com ateus.
Crentes advogam que vem do cristianismo valores como aceitação e tolerância, num exercício de desonestidade intelectual e ideológico flagrante.
É inimaginável que haja aceitação e tolerância por parte dos cristãos se ateus decidirem visitar suas casas e tentar convencê-los a se tornarem ateus, ou que estes comprem horários em emissoras de rádio e televisão ou que adquiram concessões dos mesmos para difundir o ateísmo.
Por outro lado o crente entende que é perfeitamente aceitável que um apologista cristão não apenas aborde um ateu em casa como ainda que se comporte de forma insistente caso receba uma negativa, afinal ele, apologista, está seguindo os ditames de sua fé, trabalhando para difundir a mesma.
Se o ateu expressa seu aborrecimento e até raiva com esse comportamento, o entendimento não é, como seria natural, de que ele está reagindo a uma intromissão indevida e a uma imposição de algo sobre quê já houve longo tempo de reflexão e estudo para que viesse a ser rejeitado; ele é visto como agressivo, mal educado, intolerante.
Em resumo: ateus não devem se expressar quando o assunto trata de suas razões para não crer em deuses e não devem expressar desagrado quando forem abordados por pessoas inconvenientes e mal educadas cuja única razão para estar amolando outra pessoa é o entendimento da maioria crente de que um dos seus tem direito a incomodar, apenas porque crê. Falar em aceitação e tolerância cristã é mais que uma piada de mau gosto, é mentira, pura e simplesmente.

Outro exemplo de mentira e também de manipulação ideológica por parte de crentes em relação a ateus trata da associação destes aos partidários do Socialismo. Esta é uma coisa que sempre é oportuna dizer: socialistas (ou como são mais conhecidos, comunistas) não são ateus rigorosamente falando. Eles também têm sua religião, que é o Socialismo. 
O verdadeiro ateu é uma pessoa extremamente cética em relação a qualquer ideologia.
Nem é necessário um estudo aprofundado para se perceber que assim como o Cristianismo tem na figura de Cristo a base de sua ideologia, adaptada embora segundo as conveniências de lugar e tempo, os crentes do Socialismo também a têm na figura de Karl Marx, e Joseph Schumpeter exprimiu isso de maneira ideal: 

Em certo e importante sentido, o marxismo é uma religião. Em primeiro lugar, proporciona, ao crente, um sistema de fins últimos que envolvem o significado da vida e constituem critérios absolutos para o julgamento de acontecimentos e ações. Em segundo lugar, apresenta um guia para tais fins, guia que implica um plano de salvação e a indicação dos males dos quais a humanidade, ou parte escolhida, será salva. Podemos acrescentar: o socialismo marxista pertence ao subgrupo que promete o paraíso neste lado do mundo.
Schumpeter, Joseph, A. Capitalismo, Socialismo e Democracia, p.23. 


Quando um cristão coloca como sinônimos comunistas e ateus, está revelando algumas coisas sobre si mesmo. Num primeiro caso, que é um desses incultos preguiçosos que se contentam com o ouvir dizer. Esse tipo faz parte da maioria.
Há uma minoria, contudo que associa ateus com comunistas de forma deliberada, no intuito de apresentar o ateu como a pior coisa que pode acontecer para uma sociedade, já que comunistas contam entre suas práticas o assassinato de milhões de pessoas e a degradação do ser humano pela privação material e de direitos fundamentais. Aproveitam-se claro do fato de que a imensa maioria de comunistas é ateia do deus cristão, embora haja aqueles que conseguem ser devotos das duas ideologias, vide Frei Leonardo Boff e os adeptos da Teologia da Libertação.
Comunistas combatem o cristianismo não por serem ateus do deus cristão, mas por identificarem em seus seguidores um obstáculo à implantação de sua própria religião.
Há uma minoria de cristãos suficientemente informados para conhecer esses fatos; quando essa minoria apresenta o ateu como sinônimo de comunista não está defendendo sua fé, está, por meios desonestos, mentirosos, tentando calar àqueles a quem, por princípio, não reconhece direito de manifestação e mais que isso, tem medo dessa manifestação.

Em termos práticos o Cristianismo e o Socialismo são faces da mesma moeda, expurgadas as firulas filosóficas com as quais cada qual reveste sua essência autoritária.
Antes de “salvarem” o indivíduo, precisam anular sua capacidade de pensar por si próprio; precisam primeiro solapar qualquer base de autoconfiança figurando o indivíduo como sendo ao mesmo tempo vítima e produto de algo mal, seja esse mal o pecado original ou o sistema burguês-capitalista. Até na forma de tratar a divergência se assemelham e pelas mesmas razões. O divergente é movido por maldade, é movido pelo desejo de destruição pela destruição e precisa ser calado. É um inimigo.
Um método comum a ambos é bradar incansavelmente pela “igualdade” entre os seres humanos, mentindo descaradamente que esta “igualdade” seja realizável. Cada um em sua seara se apresenta como o único guia aceitável e autorizado para conduzir os seres humanos à redenção, desde que haja cega e irrestrita obediência aos comandos.
Têm ambos o vezo de usar meias verdades, mistificações ou inverdades completas para caracterizar quem se lhes opõe.
Não deixa, portanto, de ter uma graça irônica que certos cristãos acusem todos os ateus de serem comunistas, dado que eles sim têm muito mais afinidade com comunistas.
Só faz uso de mentiras, embustes e abuso de poder contra os que divergem aqueles que têm medo.
Muitos crentes tem medo de ateus, não por qualquer ameaça física que pressintam ou da qual possam dar prova.
Têm medo do conhecimento que ateus têm dos fundamentos da crença, do objeto dessa crença e das motivações dessa crença. Sabem que ateus não se fiam da palavra de apóstolos, profetas, apologistas. Sabem que ateus preferem a dúvida permanente à certeza fácil e confortável. Sabem que ateus estão fora do alcance da manipulação dos “salvadores”. E sabem que sua crença é analisada sem filtro: seu deus aparece tal como é: criação humana, com todos os defeitos e quase nenhuma das virtudes humanas, se chega a haver alguma nesse deus.
Em suma, o que esse tipo de crente mais teme no ateu é o reflexo de seu próprio conhecimento: o de que o objeto de sua crença não passa de quimera.
Mas mais fácil e menos doloroso é se libertar das mentiras que nos impigem do que libertar-se da mentira que se escolhe para viver.
Por isso é necessário tentar calar quem as aponta.

Virgin Steele, Visions of Eden, muito apropriado, de muitas maneiras. Além de belíssimas músicas.



quinta-feira, 13 de março de 2014

Zumbis morais.




A conta, inevitavelmente, vai chegar. Talvez seja a atual geração quem a tenha de pagar, o que seria apenas o justo. Mas provavelmente serão nossos filhos e netos. Pagarão, e muito caro, por nossa covardia, nosso comodismo egoísta. 
Nossos descendentes olharão aturdidos para o passado recente e se perguntarão como foi possível que nós, seus pais, tivéssemos pensado que tínhamos o direito de lhes legar um destroço de país, ruínas de uma sociedade. 
É isto que estamos fazendo agora e temos feito há quase doze anos. 
Embora eu vá listar aqui apenas uns poucos exemplos de nossos atos destruidores, páginas e páginas poderiam ser preenchidas com eles.

No dia 25/04/2013, um rapaz de dezessete anos ateou fogo em uma dentista e a matou queimada porque ela tinha apenas R$30,00 em sua conta bancária. 
No dia 09/03/2014, outro rapaz de dezessete anos torturou e matou com um tiro no olho,  uma menina de catorze anos, filmou o crime e colocou na internet. Eles não poderão ficar detidos mais do que três anos, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente. E quando forem liberados, seus crimes serão apagados de suas fichas. Nem seus nomes nem seus rostos podem ser legalmente exibidos. No tempo que medeia esses dois crimes, muitos, muitos outros foram cometidos por menores de 18 anos. 
O que esses acontecimentos importam ao resto de nós? Não foi nossa filha, nossa mãe, nossa irmã. Se fôssemos outro tipo de gente, o natural seria que nos erguêssemos dessa apatia, pior que apatia, indiferença, para exigir que o ECA fosse extinguido, que não mais tivéssemos limitação de idade para a imputação legal, que as penas aplicadas fossem cumpridas na íntegra, sem benefícios de redução de qualquer espécie para quem comete crimes assim.

No dia 27/01/2013, um incêndio em uma boate na cidade de Santa Maria, R.S., matou de imediato 235 pessoas - o número aumentaria para 242 - e até hoje ninguém foi punido, embora todos saibam quem foram os culpados.
Novamente, não foram nossos filhos, nossos irmãos.  Na Argentina houve um acontecimento parecido; a população daquele país se mobilizou e exigiu que providências fossem tomadas no sentido de prevenir outras tragédias, o que foi feito. Mas nós não somos argentinos.

Os condenados pela Ação Penal 470, mais conhecida como Mensalão, em que petistas decidiram comprar votos de deputados com o nosso dinheiro de impostos e com o dinheiro que extorquiram de empresas, estão prestes a deixar a cadeia, depois de poucos meses de prisão, devido à ação de ministros do Supremo Tribunal Federal, indicados pelo PT, agindo descaradamente a favor deste partido e de seus criminosos.
Eles roubaram o dinheiro de nossos impostos para escarnecer da Constituição, do Congresso, do povo que os elegeu. Eles tiveram certeza de que sairiam impunes do cometimento de tamanho crime. Eles estavam certos.
Condenados, na prática são tratados como inimputáveis pelo próprio sistema que deveria puni-los. Uma das medidas punitivas deveria ter sido o pagamento de consideráveis montantes à guisa de multas.  Eles simularam fazer campanha para arrecadar doações para pagar as multas. Nossa Constituição manda que a pena não deve passar do condenado. Legalmente, portanto, eles estão cometendo outro crime, de forma descarada, quando alegam que outras pessoas lhes estão dando dinheiro, pois estariam, essas pessoas, cumprindo uma pena que não é delas. Um do criminosos, que fingiu ser o próprio irmão morto há décadas, para fugir  para outro país, não tem qualquer problema com dinheiro, tendo comprado apartamentos de alto valor na Espanha. É mais que evidente que essas "campanhas" são um disfarce para realocarem o dinheiro que nos roubaram. Silêncio total da parte dos  que foram roubados, escarnecidos, feitos de idiotas, nós, o povo, que ficamos impassíveis e nos preparamos para reeleger uma deles. 

A partir de junho de 2013 uma sucessão de atos terroristas promovidos por criminosos que se escondem covardemente com máscaras e usam a alcunha de black blocs tem provocado destruição de patrimônio público e privado, agressão a policiais e assassinato. 
Ao invés de serem tratados pelo que são, terroristas, convencionou-se chamá-los de 'manifestantes' e tratá-los como se manifestantes fossem. Outro grupo terrorista, militantes do MST, tiveram um evento pago com o dinheiro de nossos impostos - mais de um milhão de reais - e resolveram transformá-lo num protesto em que trinta policiais foram feridos, oito deles com gravidade. A mulher que se diz presidente do país os recebeu no dia seguinte em palácio. E o povo? Bem, quanto ao povo, esse fato aconteceu, digamos, na Estônia. Não nos diz respeito. Os policiais feridos não são nossos parentes. Não temos nada com isso. Aliás, policiais, de modo geral, não merecem nosso respeito, apesar de serem filhos, irmãos, pais de alguém, apesar de arriscarem suas vidas por salários risíveis, todos os dias.

O PT agiu ilegalmente, inconstitucionalmente, trazendo médicos cubanos para o Brasil, para trabalharem numa condição análoga à da escravidão; isso foi tramado entre o ex-presidente do Brasil e o ditador cubano. Não houve qualquer reação da sociedade no sentido de que se obste essa enormidade; e no entanto,a partir do momento em que o governo eleito de um país age de forma tão escancaradamente ilegal, perde ele próprio toda a sustentação legal e moral. Num outro país, tal ação, se sequer tentada, levaria à derrubada do tal governo. Não aqui: essa gente nos avilta e nós lhes agradecemos nossa degradação, por mudos e quedos.

No Maranhão, no presídio de Pedrinhas, prisioneiros mandaram incendiar ônibus nas ruas como retaliação a uma ação descabida da polícia; cinco pessoas foram vitimadas no ataque a um ônibus e uma menina de seis anos morreu em consequência das queimaduras. Outros prisioneiros são decapitados, esquartejados, torturados antes de serem assassinados; a facção que comanda o presídio filmou as decapitações, numa manifestação do penúltimo estágio de barbárie a que se pode chegar o ser humano. O último é o nosso, sociedade que assiste impassível essa degradação . Em outro tempo, talvez outra realidade, o país deveria ter se levantado em peso, exigindo o impeachment  da mulher que diz governar o estado, representante de um clã que há décadas mantém o poder neste que é um dos entes mais miseráveis da Federação. Mas não foi nossa filhinha quem teve 95% do corpo queimado, não foi nosso irmão, filho ou pai que sofreu queimaduras em 72% do corpo tentando salvar a menina, não conhecíamos de modo algum a mãe e a irmã bebê da menina, também vitimadas. Que dizer então dos prisioneiros mortos dentro da prisão? Aliás, há muitos brasileiros por aí aplaudindo a barbárie. Que se matem. Bandido não faz falta. E quantos há por aí que se deram conta das consequências da nossa indiferença criminosa a esse estado de coisas? Da falta que nos faz e fará a capacidade de nos sublevarmos como um só, ao invés de deixar a barbárie bestial passar como  um mero incidente?

Nenhuma dessas coisas e de incontáveis outras são fruto da aleatoriedade, do destino implacável e inevitável ou coisa que o valha. São resultado das ações de uma classe de pessoas medíocres, do tipo que pensa que a vida e as outras pessoas lhes deve deferência. 
Pessoas que embora se anunciem como salvadores da humanidade, que apregoem lutar pelos direitos dos "oprimidos", tudo que almejam é submeter a humanidade ao seu tacão autoritário e tornar todos submissos e indivisíveis. Mas não chegaram até onde estão sozinhos. O povo brasileiro a tudo anuiu. Nós nos recusamos a ter responsabilidade sobre nosso destino. Entregamos essa responsabilidade nas mãos dessa gente. Eles nunca esconderam quem eram e o que queriam. Nós optamos por olhar para outro lado, sistematicamente.

Qualquer sociedade digna desse nome tem como norte deixar para sua descendência um ativo moral, ético, cultural, econômico, legal, maior e melhor do que aquele que recebeu.
Não nós brasileiros. Nós não nos importamos. Nós não temos o ânimo de reagir mesmo que estejamos sendo a cada dia mais vilipendiados por um grupo de pessoas que sente um tremendo desprezo por todos nós que só faz aumentar a cada vez em que minam um pouco mais a estrutura da sociedade  já precária que recebemos de nossos pais. 
Somos mortos-vivos, zumbis morais.

O montante de nossas omissões, de nossa apatia moral, está se acumulando, a cada dia mais. A conta há de chegar.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Dia de mulher é todo dia. Até e principalmente, da dona de casa.

Vi essa tirinha no Facebook ontem, a propósito do tal dia internacional da mulher:







Lendo a fala da Mafalda a primeira coisa que pensei foi:

Como assim, o que você gostaria de ser se vivesse? O que a mãe da Mafalda está fazendo que não seja viver?
Assuntei com o Tico e o Teco sobre os possíveis significados da graça da tirinha.
Eles se consultaram lá entre si e chegaram à conclusão que não havia intenção de graça, ou se havia, servia para temperar com uma pitadinha de humor o que é na verdade uma crítica ácida sobre a vida da dona de casa. Comunicaram-me o veredicto e me deixaram cismando sobre o assunto, indo eles próprios se ocuparem de estratégias que me permitissem dar conta das tarefas pendentes no decorrer do  que eu chamo de meu dia de folga, que calha de ser as segundas-feiras. 
Cismando passei meu dia, até concluir que não gostei dessa tirinha. Não gostei da tolice embutida nela, da leitura boboca, rasa e irresponsável da sua mensagem.

O que essa mensagem está dizendo é que ser dona de casa, mãe de família, esposa, é um não-viver e eu não gostei dela por várias razões.
A primeira, claro, por ser eu mesma todas essas coisas e oras, eu considero que estou vivendo, sem sombra de dúvidas.
Me ocorreu que não gostei da tirinha por sentir-me de alguma forma atingida pela mensagem, algo do tipo ver-se num espelho, não gostar do que está refletido e negar o que foi exposto.Mas não, não é por aí.
Claro está que a vida de dona de casa, esposa, mãe, e que ainda trabalha fora está muito longe de ser fácil.
Claro que há muitos momentos de frustração, tentando fazer com que os filhos e o marido entendam que é da responsabilidade deles também a manutenção da ordem e da limpeza do lar. Há vezes e vezes em que a gente entende perfeitamente como se sentiu Prometeu, recomeçando no dia seguinte tudo que vivera de véspera.
Claro que o cansaço se acumula, claro que há momentos em que tudo que se desejaria era estar a quilômetros de distância, num lugar de sombra e água fresca, sozinha.
E que atire a primeira pilha de pratos por lavar quem nunca parou e se perguntou para que exatamente se casou, ou alguma variação disso. 
Não há dúvida de que uma mulher que se case, tenha filhos e assuma  a responsabilidade de cuidar pessoalmente da família terá pela frente uma vida de sacrifício, em que dará de si um bom tanto a mais do que receberá de volta.

Eu penso que é exatamente nessa doação desproporcional que reside a essência da mulher.
Nós assim o fazemos porque podemos. No que diz respeito à manutenção de uma família, somos naturalmente  mais fortes, resistentes e capazes de nos adaptarmos às situações, do que são os homens. Não digo isso querendo significar superioridade em relação aos homens, que isso não existe. Eles têm seus talentos e capacidades, nós temos os nossos, cada um em sua seara. 
E nossos talentos e capacidades sempre são melhor aproveitados quando constituímos família e nos encarregamos de cuidar dela. 
A família é a base onde se sustenta a humanidade. Quem disser ou pretender que pode ser diferente estará falando besteira. 
Como é possível então que se possa dizer que uma mulher que se dedica a  manter o conforto e a dignidade de sua família, por meio das tarefas domésticas, não está vivendo?
O que seria a vida, então? Não casar e não ter filhos? Muito válida opção para as mulheres que assim decidirem.
Para as que escolherem o casamento e os filhos, viver seria abandonar o cuidado com a casa? Não se preocupar com roupas limpas para seus filhos e porquê não , para o marido? Não se preocupar como se alimentarão? Deixar a casa se transformar num tugúrio infecto? 
Viver será aceitar formar uma família para então todos estarem como bichos nas tocas?
Essa é uma consideração que escapou ao Quino, o autor da tirinha. Ninguém obriga uma mulher a se casar e ter filhos. 
Mas se ela assim escolhe, fica implícita a responsabilidade de cuidar da família.

Ademais, essas tarefas, que podem ser, e a mais das vezes são, aborrecidas porque repetitivas, intermináveis, não se findam em si mesmas.  
São uma demonstração de cuidado, de amor. Mas não o amor açucarado e irreal dos contos de fadas ou da visão narcisista e infantil que impera hoje em dia, que na verdade é um eufemismo para a auto-satisfação  a qualquer custo.
Falo do amor de gente grande, da vida real. Do amor que exige alguma dose de renúncia, que seja pleno de responsabilidade.
A mulher que se dedica a cuidar da família está ensinando valores para seus filhos, que os acompanharão vida afora, valores que falam da necessidade de ordem, de disciplina, de responsabilidade, da diferença entre o que é viver uma vida civilizada e uma vida primitiva, de bicho. Não somos  bichos. 
Uma mulher que cuida da sua casa é uma mulher que se preocupa em assegurar a seus filhos que eles têm um lugar no mundo, preparado e cuidado para e por eles.
É também uma forma de respeitar o pacto que fez com o homem com o qual concordou, por livre e espontânea  vontade, de formar uma família.
Se isso não é viver, não sei mais o que seja. E não é uma data qualquer no calendário que irá mudar o significado do que seja viver, para mim, se isso implica me sentir como uma espécie de zumbi.

Pé de página: fui assuntar sobre o autor da tirinha, Quino, só pra constatar que não há mesmo nada de novo sob o sol. O camarada é socialista, então está auto-explicada sua visão sobre a mulher dona de casa. Ela é uma minoria explorada pelo sistema burguês-capitalista
O socialismo devia mudar de nome, devia passar a se chamar Coitadismo, já que só consegue lidar com o mundo contrapondo vítimas e vilões, com os coitadistas fazendo o papel de redentores da humanidade. 

Erasmo Carlos, brega mas muito adequado: Mulher

domingo, 9 de março de 2014

Brasil: Onde os cegos devem guiar os que enxergam

Brasil, Desordem, Atraso e Omissão.


Ouço e leio frequentemente pessoas afirmando que enquanto houverem ignorantes votando em maus políticos, não temos esperança de que as coisas mudem no Brasil.
Que os temos às mancheias, os ignorantes, é fato. Dentre eles, alguns – e não é pouca gente aí nesse alguns – tão broncos que melhor lhes ornariam quatro patas.

Também é do gosto das gentes que se querem “esclarecidas” repetir sempre que os ignorantes votam em maus políticos não apenas em razão de seu natural estado de ignorância, será também por cálculo, por quererem conservar o ajutório das bolsas-esmolas, as quais entendem que é o governo quem dá. Inegavelmente, isso é fato, fato redundante, mas ainda assim fato. É redundante pois se são ignorantes não está ao alcance saber que o governo não dá nada. Se não fossem ignorantes saberiam que esse dinheiro sai dos bolsos de todos que pagam impostos, os ignorantes inclusos. Saberiam, em não sendo ignorantes, que melhor seriam servidos se ao invés de lhes fazer esmola com os bolsos alheios o governo providenciasse capacitação para o mercado de trabalho.
Saberiam, aliás, que há um mercado de trabalho, ocioso por falta de mão de obra capacitada.
Mas a César o que é de César, ou no caso, seja fato o que é fato.
Porque são ignorantes, não lhes cabe a responsabilidade pelos maus políticos e pelo inqualificável grupelho ora no poder.

A quem caberá então? Obviamente, a quem se diz esclarecido. Senão vejamos.

O grupelho petista que se auto-intitula governo vem desmontando, com a tenacidade dos incompetentes autoritários que são, toda a estrutura que mantinha o Estado, tanto no espectro da lei quanto da operacionalidade.

Quando o grupelho petista se candidatou a governar o país, estava perfeitamente sabedor de que haviam códigos de leis regendo a sociedade; quando eleito, jurou mantê-los e respeitá-los. Um desses códigos diz respeito aos contratos de trabalho que devem vigir no Brasil, a lei trabalhista.
A importação de médicos cubanos constituiu-se numa ação que ignorou a lei trabalhista brasileira com o descaso com que pisamos num papel de bala jogado na rua. Não teriam sido mais explícitos se simplesmente a tivessem rasgado e espalhado seus pedaços pela Praça dos Três Poderes afora.
Guardiões da lei no país não faltam. Ou melhor, faltam sim. Pois onde estavam, ocupados com que coisa tão mais urgente, que chamar à ordem esse grupelho, os nossos legisladores? A Ordem dos Advogados do Brasil? O Supremo Tribunal Federal? Os juízes? Os advogados?
Acaso a tarefa de mover ações de inconstitucionalidade contra a importação dos cubanos deveria caber aos ignorantes? Acaso a eles caberia formar comissões para tipificar todas as ilegalidades cometidas pelo grupelho e ajuizar contra elas?
Quando os médicos protestaram contra a vinda dos cubanos, o grupelho petista lançou-se numa campanha de desqualificação desses profissionais, incitando a população contra os mesmos. A quem deveria caber por as coisas em pratos limpos, seja se organizando como grupo de pressão, para que os médicos cubanos fossem admitidos dentro da lei, inclusive prestando o exame do Revalida, seja pagando se preciso fosse, campanhas de esclarecimento à população, mostrando que não há condições mínimas de trabalho em vários lugares do país, mostrando que se não há atendimento médico nesses lugares isso deve-se à ausência de governo? Que deveria, pois pagamos impostos para tanto, montar infraestrutura básica e ofertar salários decentes aos profissionais?  Essas tarefas deveriam caber aos ignorantes?

O grupelho petista financiou, via BNDS o porto de Mariel, que fica em...Cuba. Custou-nos, esse financiamento, cerca de um bilhão de reais. Custou-nos sim, pois o BNDS é um banco estatal, portanto público, mantido com o dinheiro dos impostos que nós, público povo, pagamos.

Façamos uma breve consideração aqui para meditar a respeito dessa palavra, pagamos.
Pagar implica que em troca de determinada soma obtemos um determinado bem ou serviço. Além disso implica também uma troca mais ou menos justa, um tanto de dinheiro por um tanto de bens ou serviços, numa equivalência aproximada. Tendo em vista as quantias astronômicas arrecadadas em impostos a cada ano e o que obtemos em troca, melhor será dizer, não que pagamos, antes somos estorquidos, esbulhados.
Fim da consideração.

Pois bem. Há um gargalo gigantesco no escoamento da produção brasileira destinada a exportação. No setor que mantém a economia brasileira respirando, o agronegócio, a situação é mais dramática. Tudo no Brasil, praticamente, é transportado por caminhões.
O governo não investe em infraestrutura, vale dizer, estradas, modernização de portos, vias de transporte alternativo, como o fluvial ou ferroviário. Nem em armazenagem.
O resultado é que o país perde na ineficiência do dito governo o que ganha em produtividade.
Apenas se vivẽssemos na Terra quadrada idealizada pelo vulgar Lula é que poderíamos entender como natural que fossem os ignorantes a cobrar soluções do auto-apelidado governo. Na ordem natural das coisas seria razoável esperar que a CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – se organizasse para mobilizar todos os interessados, a saber, produtores rurais, transportadoras, caminhoneiros, etc, e exigir que o governo fizesse aquilo para que é pago: administrar com eficiência e seriedade os recursos dos impostos, investindo em estradas, portos, silos, ferrovias, hidrovias, guiado pelo norte da racionalidade.
Caberia aos legisladores cobrar explicações sobre o sigilo imposto ao financiamento do porto de Mariel. O banco que financiou é público, os legisladores são os representantes públicos. Aliás, caberia também aos legisladores investigar os gastos absurdos com obras que nunca saem do zero, como a Transnordestina, onde já foram torrados bilhões de dinheiros sem que haja perspectiva de vir a ser fato.

O país está correndo o sério risco de sofrer um apagão ou de ter que ficar sob racionamento de energia. No momento, o auto-apelidado governo tenta tapar o sol com a peneira, fazendo uso sistemático de termelétricas, caras e muito poluentes, além de forçar as usinas todas a trabalharem na potência máxima, proibindo a manutenção, expondo o sistema todo a danos. Não tendo investido em geração de energia, é o resultado esperado.
A indústria depende da geração de energia. Onde estiveram esse tempo todo os industriais, que não se organizaram para pressionar o governo a trabalhar? Esperando que os ignorantes fizessem isso por eles?

Ou talvez muito ocupados em se roer de inveja do Eike Batista, a rídicula tentativa da petezada de mostrar aos EUA que aqui também se faz um gigante dos negócios? Tubarão dos negócios, melhor dizendo, já que predou dinheiro público a rodo.

Seguem todos como vacas a caminho do matadouro, sem tugir nem mugir, como se estivessem condenados sem alternativa. Pensando bem, não insultemos as vacas. Elas ao menos esboçam reação. Esses "esclarecidos" limitam-se a oferecer os costados para o chicote.

 

É muito fácil responsabilizar os ignorantes. E é muito covarde também. 

 
Se já houve um povo decidido a não fazer jus a seu Hino Nacional, somos nós, brasileiros...

quinta-feira, 6 de março de 2014

Selvagens.





Na rua em que moro, meus vizinhos mais imediatos têm de quatro a seis cães cada um. Vivo rodeada pelo concerto infindável de ao menos vinte cães ladrando. Seus donos têm a pachorra de manterem uma conversação, aos berros, com quem chegue aos seus portões, em meio à ladraria e nunca sequer fazerem menção de controlarem os animais para que se aquietem. Isso é dia e noite. Eu tenho dois cães, uma fêmea que foi abandonada há doze anos atrás, ainda filhote, na minha porta e um macho que adotei para que não fosse abandonado nas ruas. São, pela educação que receberam, mais civilizados que meus vizinhos. Latem apenas para os garis do caminhão de lixo, que passam nas manhãs de terça, quinta-feira e sábados. E para o carteiro, claro, ou não seriam cães. O Tex às vezes se entusiasma um tanto, mas basta que eu saia á porta e o chame num tom firme e ele cala. Eu penso: se meus cães puderam ser educados, por que não o poderiam ser os cães dos vizinhos? E me respondo: porque meus vizinhos não têm educação para consumo próprio, que dirá para transmitir aos cães.
Um deles, à hora que lhe cai bem à veneta, coloca o carro na calçada e liga o rádio nas alturas.

Há uma família que tem uma menina de uns dois anos; essa criança tem ataques de choro intermináveis e gritos lancinantes, não por estar sendo maltratada, mas por birra, manha. Nem a mãe, nem a avó põem um paradeiro nesses ataques, agem como se nada estivesse acontecendo. Num fim de tarde a menina gritava com tanto empenho e estridor que fui lá fora ver se lhe acontecera algo, como um piano que lhe tivesse caído no pé; nada, era só mais uma sessão de “eu quero, eu quero, eu queroooooo!!!” Inacreditavelmente, sua mãe conversava, ali ao seu lado, num celular, calmamente.

Uma outra família promove festas que duram a noite inteira, regidas pela mãe, apreciadora de funk lixo. Logo que eles se mudaram para cá, nas primeiras vezes eu, indignada com a situação, acionava a polícia, quando já íamos pelas três, quatro horas da madrugada e a fuzarca parecia acontecer na minha cozinha, tamanha a altura da assim chamada música e os gritos de bêbados arruaceiros dos convidados e da própria família. Assim que a viatura desaparecia do alcance do barulho, eles aumentavam o volume de tudo, da gritaria, do lixo a que chamam música e incrementavam com palavrões dirigidos a quem chamara a lei. Como a única alternativa seria invadir a “festa” com uma arma de fogo e ao menos “matar” o aparelho de som e como eu nunca tive uma arma e nem pretenda ter, a alternativa foi passar a usar fones de ouvido também durante as noites de confraternização dos bárbaros (que já os uso de dia para neutralizar os latidos incessantes e o mal que me fazem aos nervos), em alto volume, para abafar um pouco a alegria alheia. Ainda acabo surda.

Os vizinhos da rua de cima parecem pensar que suas questões domésticas são assunto de prioridade e interesse municipal, pela forma como berram uns para os outros seus desentendimentos. Em dia de jogos do Corínthians ninguém precisa ligar seu aparelho de TV, se não quiser. Eles não apenas colocam o som em volume estrondejante como berram a todo e qualquer lance, nos termos mais coloridos possíveis. Salvo engano, todos os palavrões mais chulos e ofensivos possíveis no rol dos palavrões, que foram evitados em minha casa já foram aprendidos por meus filhos graças à prestimosa e não solicitada colaboração desses vizinhos.

Na rua lateral que dá acesso a uma avenida os motoqueiros passam com canos de escapamento que encomendaram aos fabricantes das espaçonaves que decolam de Cabo Canaveral. Todo final de tarde eu fico na expectativa de ver os vidros das janelas despencarem em pedaços devido à vibração produzida pelo ruído das máquinas.
Mas os piores são os retardados, babuínos disfarçados de seres humanos, que passam dirigindo suas caminhonetes e carros com equipamento de som pelo menos tão potentes quanto a estrutura de som do Rock in Rio. E eu sei dessa potência, estive lá. A diferença é que o Rock in Rio acontece a cada dois anos e o local do evento fica numa região mais afastada das casas das pessoas. Os motoristas aqui acontecem todos os dias, a qualquer hora do dia e da noite, tocando funk lixo.

Nos ônibus quase sempre há um imbecil grosseiro mal educado impondo o som estridente de seu celular aos demais, geralmente tocando funk lixo.

Tive uma vizinha que realmente parecia pensar que eu fosse adepta do ditado espanhol “Mi casa su casa”. Ignorou solenemente toda e qualquer demonstração que dei de que ela não era bem vinda. Uma vez me disse que ficou de queixo caído quando conheceu meu marido: não acreditou que um “tipão” como ele fosse casado com alguém tão mirradinha, magrela e sem sal como eu. Outra vez, disse que eu não tinha cara de quem gostasse de rock: eu tinha cara de pagodeira. Foi nesse dia que eu decidi que o Universo era pequeno demais para nós duas.Tão inconveniente era ela que cheguei a temer acordar uma manhã e vê-la dormindo entre mim e o digníssimo. Na melhor das hipóteses.
Felizmente alguma sorte existe mesmo para uma azarada do meu naipe: ela foi obrigada a se mudar, por não pagar quatro meses consecutivos do aluguel.

Na época em que tentei ser professora, fiquei estarrecida com o comportamento dos alunos e de suas famílias, não todos, justiça se faça. Numa sala de quarenta e tantos alunos era possível (mas não muito provável) encontrar dois ou três que estavam lá para estudar e que haviam absorvido ao menos os rudimentos básicos da boa educação. Perdi a conta das vezes em que tive que me esquivar dos carros em frente ao portão da escola, já que a faixa de pedestre, igualmente na frente do portão, estava ocupada pelo carro do papai ou da mamãe, totalmente alheios ao perigo a que expunham as demais crianças a pé. Nunca me esqueço da vez em que presenciei uma cena surreal: passava eu por uma calçada e havia um carro estacionado atravessado na mesma e por isso tive de rodeá-lo pela rua, movimentadíssima àquela hora matinal. Uma mulher tirava do banco traseiro caixinhas de suco, embalagens de biscoitos, de balas, as jogava na rua e enquanto isso repreendia duas crianças:
a mamãe já não ensinou que não pode jogar o lixo no carro? Vocês jogam lixo no meio da casa? Não, né? O carro da mamãe é igual lá dentro!”

Aliás, não é futebol o esporte preferido dos brasileiros. É jogar lixo na rua. Passam de carro, jogam latas de cerveja ou refrigerante pela janela. Igualmente nos ônibus. Jogam todo tipo de lixo nas ruas. Alguns, mesmo tendo a cidade bem servida pela coleta de lixo têm preguiça de levantar mais cedo e deixá-lo na calçada. Num fim de semana, juntam o lixo acumulado e põem fogo. Ou o deixam fora na noite anterior e os cães o espalham, expondo toda sorte de nojeira. O proprietário do lixo espalhado não varre e junta, deixa para o gari.

Parece ser cada vez maior o número de garotas que antes de se tornarem adultas já têm pelo menos dois filhos de pais diferentes, vivendo em famílias desestruturadas, dependentes das bolsas-esmola. Me admiro com as pessoas que se admiram ao saber que minhas filhas já alcançaram as provectas idades de 18, 20 e 23 anos sem terem um filho cada, ao menos. Casamento é, ao que tudo indica, item dispensável no processo de aquisição do filho. Também me admiro com quem se admira de meus filhos nunca terem repetido um ano escolar, gostarem de ler e serem bons alunos. Nesse quesito, aliás, foi só quando estive numa sala de aula como professora que entendi a razão dos professores dos meus filhos louvarem o fato de que eles eram...educados.

E essas coisas ainda são pouco perto da barbárie que cada vez mais frequentemente vemos nos noticiários. Ainda ontem soube de um pai que matou o filho de oito anos, de pancada. Filho esse que lhe fora enviado pela mãe, que não trabalha e tem vários filhos de pais diferentes.

Por todas essas e mais outras, a sensação que tenho é de ser uma estrangeira no meu país. Não posso deixar de me perguntar, observando a derrocada de tantos e imprescindíveis valores:
O que aconteceu? O que aconteceu com a noção de que temos o dever de ter respeito uns com os outros? O que aconteceu com a noção de que temos o dever de ter consideração uns com os outros? O que aconteceu com a noção de que temos o dever de constituir família para dar um lugar razoavelmente seguro aos filhos que vamos por no mundo? O que aconteceu com a noção de que temos o dever de transmitir a esses filhos que a educação, tanto a formal quanto a social, faz parte dos valores essenciais que devemos cultivar? O que aconteceu com a noção de que temos o dever de trabalhar para termos direito a nosso sustento?
Eu nasci numa família extremamente pobre. Eu e meus irmãos tivemos como herança a noção desses deveres todos e nenhum bem material. Foram mais que bastante para, além de melhorarmos materialmente nossas vidas (com considerável ajuda dos governos do FHC, que se preocupou em tentar dar chances às pessoas, não esmolas), por nossa vez constituírmos famílias razoavelmente dignas.

Observando as coisas cá do meu canto, fico cismando se não estamos nos “descivilizando”, retornando à condição de selvagens primitivos.
E se esse processo tem volta.

Escrito ao som do álbum da banda alemã Accept , Balls To the Walls, em homenagem á minha ex-vizinha. Pagodeira, pois sim!