Caso
você esteja pensando em ter um filho, não cuide de perder tempo imaginando se
ele/ela terá a inteligência da mãe e a beleza do pai, se terá os olhos da vovó
e o nariz do vovô.
Se
ocupe em pensar que você estará pondo no mundo um ser humano. Isso quer dizer que
você estará se responsabilizando pelas consequências de contribuir com bons ou
maus costumes, com a educação ou falta dela, com a civilidade ou a barbárie, de
mais uma pessoa neste nosso mundo que já é muito complicado.
Isto
posto, vamos ao que interessa: a arte de criar filhos.
Criar
filhos não significa pô-los no mundo e esperar que se comportem como um pé de
margarida silvestre, isto é, que floresçam sem cuidados maiores.
Dá
um trabalho medonho. Primeira coisa: você não pode criar um filho sem se
sacrificar. Seja o sono, sejam horários regulares de alimentação, seja a visita
à sala do trono, o banho, horas de lazer, vida sexual, sua paciência, seu amor-próprio...
A lista é longa e você só não passará por isso se deixar seu filho/filha aos
cuidados de terceiros e aí você não será pai e/ou mãe, então não é com você que
estou falando.
A
coisa mais importante de todas: uma família não é uma democracia. É no máximo
uma teocracia esclarecida, em que você é deus dispensando amor, sabedoria,
justiça.
Isso
de ser deus é uma responsabilidade imensa. Faça jus a ela. Um dos quesitos
fundamentais é a justiça. Não prometa
nada que não vá cumprir. Não minta para seu filho se puder evitar. Se não
puder, certifique-se de que ele nunca descubra, ou só descubra quando estiver
na idade em que pode avaliar as coisas que nos movem. Não estabeleça critérios
que você não possa seguir. Nada desmoraliza mais um pai e mãe que dizer ao
filho que este deve se comportar de uma forma determinada enquanto os próprios
pai/mãe agem de forma diferente.
Amar
não é mover céus e terra para que seu filho seja feliz. Por que nem os céus nem
a terra se moverão para agradar seu filho quando ele tiver que lidar com o
mundo por conta própria. Não é dar tudo que ele queira. Não é deixa-lo fazer
tudo que queira. Essas coisas não significam amor de sua parte, significam
egoísmo. Significam que você não quer ser amolado e acha mais fácil (para você)
ceder do que ter trabalho e aborrecimento. Você ainda não sabe, mas ser pai/mãe
significa ter aborrecimentos, um atrás do outro.
Seja
você crente ou ateu, há uma máxima na bíblia que realmente vale alguma coisa: seja o seu sim, sim e o seu não, não.
Portanto:
tome muito cuidado quando enunciar seus princípios. Esteja preparado para
resistir a um assédio verdadeiramente infernal se proibir algo que seu petiz
queira e de que você discorde ou não queira ou não possa dar.
Lágrimas
copiosas, nariz escorrendo, soluços de cortar o coração da esfinge, gritos,
lamentos, nada disso importa mais que a segurança que você estará transmitindo
ao seu filho/filha, junto com a noção de que ele tem limites. Haverá ocasiões
em que você perceberá que poderia ter sido mais flexível. Nesse caso, não tema
em explicar a seu filho/filha que você errou e que está reconsiderando sua
decisão. Apenas cuide para que essas ocasiões ocorram o mínimo possível ao
mesmo tempo em que deixa claro que é você quem manda.
Aceite
os benefícios do castigo, sem medo. Por castigo vale privar o filho/filha das
coisas que ele gosta, mas também um bom grito e umas sonoras palmadas na hora
certa.
O
quê? Gritar é dar mau exemplo? Depende. Se você vai ter ataques histéricos por
tudo e por nada, é um mau exemplo, sem dúvida. Mas um grito na hora certa tem
efeitos terapêuticos e pedagógicos. Terapêutico por que você estará dando vazão
a um nível de irritação que extrapola sua capacidade de aturar manhas e teimosias,
além de prevenir o momento desagradável em que seu último recurso é dar umas palmadas
no bumbum do seu filho pirracento. Você ainda é um ser humano, não se esqueça
disso, mas não abuse disso.
Pedagógico
por que se usado com parcimônia fará seu filho/filha perceber que está
ultrapassando limites, os mesmos que você a essa altura já terá cuidado de
deixar claro quais são.
Mas
não deite em cima dos louros ainda. Crianças pequenas têm uma capacidade
tremenda de desafiar qualquer limite. Isso por que elas estão testando até onde
podem ir e o céu é o limite.
Quando
vejo um pai ou mãe dizendo que nunca precisou dar uma palmada no filho eu penso
que
a
– ele/ela está mentindo;
b
– ele/ela não cria o próprio filho/filha;
c
– ele/ela está criando um androide;
d
– ele/ela é que é o androide.
Sim,
haverá um momento ou outro em que você precisará esquentar o bumbum fofinho do
seu filho/filha e não, você não deverá se sentir como se tivesse cometido um
crime contra a humanidade. Você não gostará de ter que fazer isso e não se
sentirá bem depois de tê-lo feito, é bom que fique sabendo.
Os
propagadores do mundo paz e amor, mundo que não existe, dizem que a palmada não
é pedagógica.
Mentira
deles. É sim. Uma palmada aplicada no momento certo e pelas razões certas fará
seu filho/filha perceber que ele/ela realmente
ultrapassou qualquer limite e que isso não foi nada bom nem certo.
A
sua palmada hoje pode evitar que amanhã seu filho/filha quebre a cabeça de
alguém, ou ponha fogo em alguém ou jogue o próprio filho/filha pela janela do
sexto andar para tentar despistar que bateu na criança a ponto de pensar que
ela estava morta. Sua palmada e seu grito servirão para ensinar a seu
filho/filha que algumas coisas simplesmente não se fazem, ponto final. Claro
que antes disso você terá dado o máximo de si para ensinar por outras formas.
E
não se preocupe. Seu filho/filha não deixará de amá-lo. Isto é, não deixará de
amá-lo se você se fizer amado. Se estiver presente o máximo possível na vida
dele/dela, abraçando, beijando, ouvindo, respondendo, respeitando. Acalentando
quando ele/ela estiver com medo, tiver se machucado, ou quando apenas quiser
ficar no seu colo, sentindo seu cheiro e seu calor.
Ter
e criar filhos não é uma aventura inconsequente. É uma realização como nenhuma
outra que o ser humano possa experimentar. Tudo que você der de si trará de
volta uma recompensa que não pode ser medida por valor nenhum no mundo.
Tenha
seu filho ou sua filha e ame-o e ame-a tanto quanto possa e saiba que esse amor
é muito maior do que você pode imaginar antes de tê-los. Mas seja responsável. Se
responsabilize integralmente por essa vida, preparando-a para o mundo e ela
para esse mesmo mundo.
Esse texto foi escrito ao som de As Quatro Estações, Vivaldi. Por que a vida é um ciclo que deve ser celebrado na sua plenitude.





Ter filho não é só parir, isso qualquer animal também os tem.
ResponderExcluirEducar cidadãos é uma missão que vai além de um imensurável amor, é preciso ter firmeza, fazer valer sua palavra, educar, teimar, aplicar regras, respeitar, e é claro com amor, digo um amor normal que não seja doentio.
Uns tapinhas tem seu valor, mas não concordo com o uso de objetos para bater nas crianças.
Às vezes um não bem dado com tenacidade surte muito efeito, mas, tem que ser um não no sentido firme, fazendo valer para que a criança não venha a pensar que, com um jeitinho ou birra ela pode reverter a situação, e ganhar a peleja em seu favor.
Muito bom Shirley, gostei do texto, valeu mesmo.
Um abraço
.
Ana
ResponderExcluirSou também totalmente contra uso de objetos para bater em crianças. Há aqueles que dizem não haver diferença entre isso e a palmada, mas estão equivocados. E mesmo a palmada, como escrevi, é um último recurso. Antes de tudo é a firmeza e tenacidade.
Obrigada pela presença!
É estranho perceber algumas críticas que recebo quando me manifesto contra a "Lei da Palmada". Algumas pessoas acham que por eu ser contra a aprovação desta lei, isto faz de mim um espancador serial de crianças.
ResponderExcluirSabe o que é Marcos?! a maioria dessas pessoas vão puramente no embalo do politicamente correto imposto pela nossa mídia podre sem valores.
ExcluirO João Ubaldo escreveu um texto falando sobre isto ai, que hoje em dia tudo é doença (criança hiperativa, sindrome de sei la o que e por ai vai rrss)
Putz, adorei este texto que bom que pensamos igual!!
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