quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Negritude e Branquelismo.



A propósito de um vídeo que faz sucesso nas redes sociais com uma uma garotinha – deve ter, sei lá, uns três anos – que chora sentidamente porquê, diz, queria ser negra, me pus a pensar sobre essa coisa de "negritude" (e se há a "negritude", podemos e devemos ter também o "branquelismo", por que não?) e sobre a hipocrisia dos brasileiros quando se trata da cor da pele. 

Começando pelos comentários de quem vê e compartilha o vídeo, que são um primor de hipocrisia sentimentalóide. É tudo no nível de aaahhhs  e ohhhs, que fofa, o coração sabe, se todos pensassem assim, que menina pura de coração...

A menina é loira como uma filhote de Barbie.

Aí eu fico pensando. E se fosse uma negrinha de nariz de batata, com lábios grossos e cabelo carapinha quem se debulhasse em lágrimas por não ser loira? Dou a minha cara a tapas se íamos ver alguém dizendo tapa na cara do preconceito!  Não tem racismo. Linda! O exemplo vem de pequeno, sem palavras. Criança é assim mesmo, pureza total, não tem preconceito nenhum com nada. Ou alguma idiotice da mesma cepa.

Não, o discurso seria mais ou menos assim: pobre garotinha, tão pequena e já aprendeu a ter vergonha da própria ‘raça’. Ou: que exemplos essa menina tem em casa? A mãe deve ser uma dessas que alisa o cabelo pra macaquear as branquelas. Teríamos também a mistureba de sociólogo ou socióloga de algibeira com defensor da causa: o problema é essa sociedade racista, elitista, que determinou que o padrão de beleza seja a loira de olho azul, que não permite que a beleza negra aflore em todo seu potencial. Cabelo afro, já!
Seja num caso, seja noutro, se não fosse a sujeira resultante, eu vomitaria.

Os que acham tão mimosa a menina querendo ser negra são hipócritas, sem mais nem menos. Em sendo brancos, nenhum deles quereria se tornar negro.
Ou são, também, desses bobos alegres que se “emocionam” com mensagens de Facebook ou afins, essa gente afeita às emoções baratas e instantâneas, que faz as vezes de pensamento profundo. 
Imagine se a loira de longos e lisos cabelos trocaria suas madeixas pelo cabelo crespo e armado de uma negra. Até parece. Imagina se a branca ou o branco acharia “lindooo!!” trocar de lugar com um negro ou uma negra. Faz-me rir. Ou, vomitar.

E a turma do “pretinho básico” é tão hipócrita quanto, senão mais. Toda a discurseira engajadinha nas causas politicamente corretas é só da boca para fora, para aqueles e aquelas que não estão militando na “causa” negra. Eles se encantam e se puderem não se furtam a escolher a “alemoa”, a “branquinha”, para namorar e casar. Elas fazem o que podem para ter ao menos “cabelo de branca”. Não critico essas coisas, a vida (e o cabelo) é de cada um, que faça o que melhor lhe apeteça. O intragável é a hipocrisia.

Já os militantes da “causa” negra não são movidos, como gostam de fazer parecer, por qualquer coisa como justiça, igualdade e que tais. São movidos pelo ódio e, suspeito eu, pela inveja rancorosa. Basta ver suas famigeradas cotas, que não se pejam de alijar o branco pobre. Para esses, pouco importa a condição social, o branco, mesmo que nasça numa condição ainda mais miserável que o negro, já nasce privilegiado com a cor “certa”.

É um povo besta, autoritário. Ai de mim se digo que não acho nem um pouco bonito aquele “cupinzão” em cima das cabeças das negras militantes. Sou logo tachada de reacionária (hã?). Mais: o fato de, como negra (embora esteja literalmente na cara que não sou “negra”, sou mestiça) não gostar do cabelo afro revela que eu tenho preconceito contra minha própria “raça”, que eu não tenho “autenticidade”, e que absorvi como meu o critério da “elite branca dominante” de beleza. Mas, como já dizia aquela música, tô nem aí. Acho feio mesmo e imagino que aquilo deve dar um trabalho pra pentear! Além do quê, é meu senso estético. Também acho o Tony Ramos um pesadelo de feio com aquele nariz inacreditável e (argh!) aquele horror de pelos. Se tiver por aí algum militante da “causa” do pelame do Tony Ramos, vai me acusar de ser dominada pelo senso estético imposto pela elite dos peitos pelados?
Se eu mencionar aqueles panos medonhos com que se enrolam algumas militantes, então...
Já fui informada que aqueles panos hiper-estampados em cores que agridem os olhos e o bom gosto são uma forma de “evocar a mãe África”.
Filhas d’África, não se limitem a “evocar” a “mãe África”. Vão logo para o seu regaço, que lhes parece? São múltiplos os amplexos que essa mãe pode oferecer. Sudão, Nigéria, Mali, Ruanda, Darfur, Somália, Líbia...
Não, né? É muito mais fácil e seguro ficar por aqui, fazendo tipo de engajada na “causa”, fazendo do cabelo "um ato político" e fazendo a cabeça dos tontos. Que, por sua vez, vão achar “lindooo!!!” uma menininha se esguelando por que queria ser preta, enquanto vão tecendo frases hipócritas e melosas sobre isso.
Acho que vou mesmo vomitar.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Porque a culpa, é dos brasileiros.




São raras as vozes que o afirmam. Mas nem por serem raras estão erradas ou imbuídas de má fé. Estes últimos doze anos, com tudo que têm de errado, ruim e deletério (e como, e quanto!) para nosso país, é culpa dos brasileiros. Eu me permito não me incluir entre todos os responsáveis por esse estado de coisas.
Eu não votei no PT. Eu nunca sequer considerei votar no PT. Nunca me deixei levar por seu canto da sereia.
Não me envergonho, ao contrário! Orgulho-me de dizer que votei no PSDB, sempre. Não por enxergar nesse partido a solução miraculosa para todos os problemas do Brasil, diferentemente dos que votaram e votarão no PT.
Mas por ver nesse partido o pragmatismo possível de ser aplicado nessa bagunça impressionante que é este país e sobre esse povo tão irresponsavelmente desinteressado do próprio destino. Este povo que parece se orgulhar de não se interessar pela própria cultura, pelo próprio passado; que fala de boca cheia: eu não me interesso por política.
Este povo, triste povo, que preferiu o sacrifício a perder de vista, ao sacrifício que poderia ter sido temporário. Que tendo rapidamente se acostumado a certa bonança econômica, nos primeiros anos do Plano Real, se acovardou no primeiro momento de dificuldade e correu a se jogar nos braços do messias salvador da pátria que por décadas rejeitara, apenas por ter esse messias mudado convenientemente o discurso que sempre sustentara.
Num passe de mágica, ei-los todos, seduzidos pela mentira. Na sua ânsia de ver resolvidos todos o problemas por meio de um milagre, como é mister na personalidade brasileira, não quiseram enxergar no messias o que estava explícito, a mentira e a enganação.
E ele, o messias não se fez de rogado. Tal é sua desfaçatez, que se diria ter planejado ver até que ponto conseguiria esfregar na cara dos brasileiros sua pusilanimidade, sua e dos brasileiros. Aproveitou-se de tudo que não fizera, de tudo que fora deixado pelo governo anterior. Não satisfeito, assumiu como sua a obra desse governo, enquanto mentia incessantemente que tal governo nada fizera de bom para o país, que ao contrário, só mal fizera.
Seus filhos enriqueceram sem que se saiba como; sustentou uma amante com nosso dinheiro; escândalos de corrupção se sucederam; e a tudo isso os brasileiros se fizeram de cegos, mudos e surdos. Nada viram de errado, nunca. Tanto é assim que o reelegeram, elegeram a mulher que ele mandou eleger, que uma simples observação de antecedentes demonstrava não ter qualquer capacidade de governar o país. Fiou-se, o povo brasileiro, da palavra de seu messias.
Ainda uma vez os brasileiros parecem dispostos a repetir a própria infâmia.
Há aqueles que movidos sabe-se lá por qual estado de estupidez imbecilizante, ainda creem que o pau mandado de seu messias reúne condições para continuar no comando dessa nau de insensatos.
E há os que começam a perceber que o milagre de saias que o messias mandou eleger não governa nada, não tem competência sequer para ser senhora dos próprios neurônios. Nem por isso recobram a lucidez, se algum dia a tiveram.
Preparam-se para entronizar uma nova santa no altar desse lugar mágico em que vivem, o Brasil “sonhático”.
Não apenas não se importam, mas se enfurecem com quem aponta os pecados dessa santa.
Então sonhem brasileiros. Sonhem que estão sonhando, enquanto vivemos todos nesse pesadelo do qual tão cedo não acordaremos.
A culpa é de vocês, depois, não reclamem, embora estejam laboriosamente erguendo, tijolo a tijolo, um muro de lamentações a perder de vista.