A propósito de um vídeo que faz sucesso nas redes
sociais com uma uma garotinha – deve ter, sei lá, uns três anos – que chora
sentidamente porquê, diz, queria ser negra, me pus a pensar sobre essa coisa de "negritude" (e se há a "negritude", podemos e devemos ter também o "branquelismo", por que não?) e sobre a hipocrisia dos brasileiros quando se trata da cor da pele.
Começando pelos comentários de quem vê e
compartilha o vídeo, que são um primor de hipocrisia sentimentalóide. É tudo no
nível de aaahhhs e
ohhhs, que fofa, o coração sabe, se todos pensassem assim, que menina pura de
coração...
A menina é loira como uma
filhote de Barbie.
Aí eu fico pensando. E se
fosse uma negrinha de nariz de batata, com lábios grossos e cabelo carapinha
quem se debulhasse em lágrimas por não ser loira? Dou a minha cara a tapas se
íamos ver alguém dizendo tapa na cara do
preconceito! Não tem racismo. Linda! O
exemplo vem de pequeno, sem palavras. Criança é assim mesmo, pureza total, não
tem preconceito nenhum com nada. Ou alguma idiotice da mesma cepa.
Não, o discurso seria mais
ou menos assim: pobre garotinha, tão
pequena e já aprendeu a ter vergonha da própria ‘raça’. Ou: que exemplos essa menina tem em casa? A mãe
deve ser uma dessas que alisa o cabelo pra macaquear as branquelas. Teríamos
também a mistureba de sociólogo ou socióloga de algibeira com defensor da causa:
o problema é essa sociedade racista,
elitista, que determinou que o padrão de beleza seja a loira de olho azul, que
não permite que a beleza negra aflore em todo seu potencial. Cabelo afro, já!
Seja num caso, seja noutro,
se não fosse a sujeira resultante, eu vomitaria.
Os que acham tão mimosa a
menina querendo ser negra são hipócritas, sem mais nem menos. Em sendo brancos,
nenhum deles quereria se tornar negro.
Ou são, também, desses bobos
alegres que se “emocionam” com mensagens de Facebook ou afins, essa gente
afeita às emoções baratas e instantâneas, que faz as vezes de pensamento profundo.
Imagine se a loira de longos
e lisos cabelos trocaria suas madeixas pelo cabelo crespo e armado de uma
negra. Até parece. Imagina se a branca ou o branco acharia “lindooo!!” trocar
de lugar com um negro ou uma negra. Faz-me rir. Ou, vomitar.
E a turma do “pretinho
básico” é tão hipócrita quanto, senão mais. Toda a discurseira engajadinha nas
causas politicamente corretas é só da boca para fora, para aqueles e aquelas
que não estão militando na “causa” negra. Eles se encantam e se puderem não se
furtam a escolher a “alemoa”, a “branquinha”, para namorar e casar. Elas fazem
o que podem para ter ao menos “cabelo de branca”. Não critico essas coisas, a
vida (e o cabelo) é de cada um, que faça o que melhor lhe apeteça. O intragável
é a hipocrisia.
Já os militantes da “causa”
negra não são movidos, como gostam de fazer parecer, por qualquer coisa como
justiça, igualdade e que tais. São movidos pelo ódio e, suspeito eu, pela
inveja rancorosa. Basta ver suas famigeradas cotas, que não se pejam de alijar
o branco pobre. Para esses, pouco importa a condição social, o branco, mesmo
que nasça numa condição ainda mais miserável que o negro, já nasce privilegiado
com a cor “certa”.
É um povo besta,
autoritário. Ai de mim se digo que não acho nem um pouco bonito aquele “cupinzão”
em cima das cabeças das negras militantes. Sou logo tachada de reacionária
(hã?). Mais: o fato de, como negra (embora esteja literalmente na cara que não
sou “negra”, sou mestiça) não gostar do cabelo afro revela que eu tenho
preconceito contra minha própria “raça”, que eu não tenho “autenticidade”, e
que absorvi como meu o critério da “elite branca dominante” de beleza. Mas,
como já dizia aquela música, tô nem aí. Acho feio mesmo e imagino que aquilo
deve dar um trabalho pra pentear! Além do quê, é meu senso estético. Também acho o Tony Ramos um pesadelo de feio
com aquele nariz inacreditável e (argh!) aquele horror de pelos. Se tiver por
aí algum militante da “causa” do pelame do Tony Ramos, vai me acusar de ser
dominada pelo senso estético imposto pela elite dos peitos pelados?
Se eu mencionar aqueles
panos medonhos com que se enrolam algumas militantes, então...
Já fui informada que aqueles
panos hiper-estampados em cores que agridem os olhos e o bom gosto são uma
forma de “evocar a mãe África”.
Filhas d’África, não se
limitem a “evocar” a “mãe África”. Vão logo para o seu regaço, que lhes parece?
São múltiplos os amplexos que essa mãe pode oferecer. Sudão, Nigéria, Mali,
Ruanda, Darfur, Somália, Líbia...
Não, né? É muito mais fácil
e seguro ficar por aqui, fazendo tipo de engajada na “causa”, fazendo do cabelo "um ato político" e fazendo a cabeça
dos tontos. Que, por sua vez, vão achar “lindooo!!!” uma menininha se
esguelando por que queria ser preta, enquanto vão tecendo frases hipócritas e
melosas sobre isso.
Acho que vou mesmo vomitar.

