segunda-feira, 14 de abril de 2014

Deus da ignorância, Deus das trevas.

Vendo passar por mim um par de freiras dei-me conta de que toda vez que vejo um religioso vestido a caráter vem à memória casos de sacrifícios humanos tais como o Homem de Tollund e a Donzela dos Andes, por aí; outrossim, toda vez que leio sobre um caso de sacrifício humano penso em sacerdotes.

Donzela dos Andes http://www.xonei.com/17627/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Homem_de_Tollund




Ora, pensei cá comigo, que esquisitice! Por que haveria de ser isso? Consultei Tico e Teco como sempre faço em ocasiões de não entender o que vai lá pela cachola.

O Teco logo aventurou que essa associação é óbvia: corpo de Cristo, sangue de Cristo, etc. Tico já não pareceu tão certo assim, mas como minha atenção já se desviava para outra coisa, o caso foi arquivado num escaninho qualquer.

Um tempo antes disso tinha topado com um vídeo realmente nauseante de um padre, em que prestara atenção no Facebook. Normalmente passo direto por postagens desse tipo; não sei como é o Face das outras pessoas, mas minha página lá é mesmo um culto permanente, deve ser o único lugar em que Deus é onipresente, chato pra caramba.
Esse me chamou atenção pelo título: Como ir para o inferno. Puxa vida, pensei eu, tenho que saber como se faz isso.
Para resumir, o tal padre diz lá no vídeo que a receita infalível para ir morar com o tinhoso é a pessoa pensar por conta própria, tomar decisões sobre questões essenciais da vida sem a necessária interpretação, por parte dos padres, do manual de instruções para o vivente que é a bíblia.

Como eu tinha decidido escrever alguma coisa sobre isso, fui rever o vídeo.
Enquanto estou me indignando diante da tela do notebook pela sem-cerimônia com que aquele homem ameaça seus fiéis com o fogo do inferno e tormentos infindáveis eternidade afora, se eles não seguirem o que ele está dizendo, eis que na tela da minha mente surge Tico, todo afobado. A questão, diz-me ele, não é nada de Eucaristia não. A associação é com a aurora da civilização. Hein? Então eu e Tico passamos a trocar impressões sobre coisas como sacrifícios humanos, sacerdotes, civilização...

O Tico me pergunta, por exemplo, qual a diferença entre padres ministrando a eucaristia, pastores interpretando a bíblia, muçulmanos de bunda para o ar adorando Alá. Eu o repreendi por essa expressão, bundas para o ar, mas ele deu de ombros, respondeu-me que a coisa é assim mesmo.



Continuando a explanação, ele pergunta qual a diferença entre esses casos e o feiticeiro, pajé, whatever, que se apresenta como portador da palavra do deus, que interpreta, nos sinais da natureza ou nas tripas dos animais, a vontade divina; qual a diferença entre selvagens debruçados no pó, louvando o deus e os muçulmanos louvando Alá.


Cismo um pouco...o mal educado me interrompe, com cara de eureca: tintas de civilização, filha, só isso! Raspe essa tinta e o que se vê logo abaixo é o ser humano tal qual era na aurora da civilização, buscando respostas para o desconhecido, temendo-o, fazendo aquilo que um cérebro humano costuma fazer, que é atribuir a algo além da sua cognição aquilo que ele mesmo faz: criar coisas e mundos. E alguns espertalhões mais articulados se apresentando como arautos desse incognoscível.


Quanto menos recursos de sobrevivência o ser humano tem, mais dependente ele é da vontade divina, e de seus sacerdotes, por extensão. Quanto menos conhecimento dispõe o ser humano, igualmente.

À medida que os recursos tanto de sobrevivência quanto de conhecimento aumentam, menos primitivos e brutais são os rituais, mais estilizados eles passam a ser. Se antes se sacrificavam vidas, passa-se a sacrificar animais; logo estes também são deixados de lado, para serem substituídos por cerimônias alegóricas.

Mas o ponto onde os seres humanos de agora se encontram com os seres humanos da Idade do Ferro e antes, é quando se lhes faz a pergunta: se tudo teve que ser criado, quem criou o deus?
É a mesma ignorância espertalhona que falava pela boca do feiticeiro revirando tripas a guisa de indícios da vontade divina que responde pela boca de um padre Paulo Ricardo, ou de um Silas Malafaia: Deus é incriado, sempre foi, é e será.
Acabei concordando com esse parecer do Tico.


Lembrei dessa bela música: The Hidden God, Virgin Steele




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