quinta-feira, 13 de março de 2014

Zumbis morais.




A conta, inevitavelmente, vai chegar. Talvez seja a atual geração quem a tenha de pagar, o que seria apenas o justo. Mas provavelmente serão nossos filhos e netos. Pagarão, e muito caro, por nossa covardia, nosso comodismo egoísta. 
Nossos descendentes olharão aturdidos para o passado recente e se perguntarão como foi possível que nós, seus pais, tivéssemos pensado que tínhamos o direito de lhes legar um destroço de país, ruínas de uma sociedade. 
É isto que estamos fazendo agora e temos feito há quase doze anos. 
Embora eu vá listar aqui apenas uns poucos exemplos de nossos atos destruidores, páginas e páginas poderiam ser preenchidas com eles.

No dia 25/04/2013, um rapaz de dezessete anos ateou fogo em uma dentista e a matou queimada porque ela tinha apenas R$30,00 em sua conta bancária. 
No dia 09/03/2014, outro rapaz de dezessete anos torturou e matou com um tiro no olho,  uma menina de catorze anos, filmou o crime e colocou na internet. Eles não poderão ficar detidos mais do que três anos, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente. E quando forem liberados, seus crimes serão apagados de suas fichas. Nem seus nomes nem seus rostos podem ser legalmente exibidos. No tempo que medeia esses dois crimes, muitos, muitos outros foram cometidos por menores de 18 anos. 
O que esses acontecimentos importam ao resto de nós? Não foi nossa filha, nossa mãe, nossa irmã. Se fôssemos outro tipo de gente, o natural seria que nos erguêssemos dessa apatia, pior que apatia, indiferença, para exigir que o ECA fosse extinguido, que não mais tivéssemos limitação de idade para a imputação legal, que as penas aplicadas fossem cumpridas na íntegra, sem benefícios de redução de qualquer espécie para quem comete crimes assim.

No dia 27/01/2013, um incêndio em uma boate na cidade de Santa Maria, R.S., matou de imediato 235 pessoas - o número aumentaria para 242 - e até hoje ninguém foi punido, embora todos saibam quem foram os culpados.
Novamente, não foram nossos filhos, nossos irmãos.  Na Argentina houve um acontecimento parecido; a população daquele país se mobilizou e exigiu que providências fossem tomadas no sentido de prevenir outras tragédias, o que foi feito. Mas nós não somos argentinos.

Os condenados pela Ação Penal 470, mais conhecida como Mensalão, em que petistas decidiram comprar votos de deputados com o nosso dinheiro de impostos e com o dinheiro que extorquiram de empresas, estão prestes a deixar a cadeia, depois de poucos meses de prisão, devido à ação de ministros do Supremo Tribunal Federal, indicados pelo PT, agindo descaradamente a favor deste partido e de seus criminosos.
Eles roubaram o dinheiro de nossos impostos para escarnecer da Constituição, do Congresso, do povo que os elegeu. Eles tiveram certeza de que sairiam impunes do cometimento de tamanho crime. Eles estavam certos.
Condenados, na prática são tratados como inimputáveis pelo próprio sistema que deveria puni-los. Uma das medidas punitivas deveria ter sido o pagamento de consideráveis montantes à guisa de multas.  Eles simularam fazer campanha para arrecadar doações para pagar as multas. Nossa Constituição manda que a pena não deve passar do condenado. Legalmente, portanto, eles estão cometendo outro crime, de forma descarada, quando alegam que outras pessoas lhes estão dando dinheiro, pois estariam, essas pessoas, cumprindo uma pena que não é delas. Um do criminosos, que fingiu ser o próprio irmão morto há décadas, para fugir  para outro país, não tem qualquer problema com dinheiro, tendo comprado apartamentos de alto valor na Espanha. É mais que evidente que essas "campanhas" são um disfarce para realocarem o dinheiro que nos roubaram. Silêncio total da parte dos  que foram roubados, escarnecidos, feitos de idiotas, nós, o povo, que ficamos impassíveis e nos preparamos para reeleger uma deles. 

A partir de junho de 2013 uma sucessão de atos terroristas promovidos por criminosos que se escondem covardemente com máscaras e usam a alcunha de black blocs tem provocado destruição de patrimônio público e privado, agressão a policiais e assassinato. 
Ao invés de serem tratados pelo que são, terroristas, convencionou-se chamá-los de 'manifestantes' e tratá-los como se manifestantes fossem. Outro grupo terrorista, militantes do MST, tiveram um evento pago com o dinheiro de nossos impostos - mais de um milhão de reais - e resolveram transformá-lo num protesto em que trinta policiais foram feridos, oito deles com gravidade. A mulher que se diz presidente do país os recebeu no dia seguinte em palácio. E o povo? Bem, quanto ao povo, esse fato aconteceu, digamos, na Estônia. Não nos diz respeito. Os policiais feridos não são nossos parentes. Não temos nada com isso. Aliás, policiais, de modo geral, não merecem nosso respeito, apesar de serem filhos, irmãos, pais de alguém, apesar de arriscarem suas vidas por salários risíveis, todos os dias.

O PT agiu ilegalmente, inconstitucionalmente, trazendo médicos cubanos para o Brasil, para trabalharem numa condição análoga à da escravidão; isso foi tramado entre o ex-presidente do Brasil e o ditador cubano. Não houve qualquer reação da sociedade no sentido de que se obste essa enormidade; e no entanto,a partir do momento em que o governo eleito de um país age de forma tão escancaradamente ilegal, perde ele próprio toda a sustentação legal e moral. Num outro país, tal ação, se sequer tentada, levaria à derrubada do tal governo. Não aqui: essa gente nos avilta e nós lhes agradecemos nossa degradação, por mudos e quedos.

No Maranhão, no presídio de Pedrinhas, prisioneiros mandaram incendiar ônibus nas ruas como retaliação a uma ação descabida da polícia; cinco pessoas foram vitimadas no ataque a um ônibus e uma menina de seis anos morreu em consequência das queimaduras. Outros prisioneiros são decapitados, esquartejados, torturados antes de serem assassinados; a facção que comanda o presídio filmou as decapitações, numa manifestação do penúltimo estágio de barbárie a que se pode chegar o ser humano. O último é o nosso, sociedade que assiste impassível essa degradação . Em outro tempo, talvez outra realidade, o país deveria ter se levantado em peso, exigindo o impeachment  da mulher que diz governar o estado, representante de um clã que há décadas mantém o poder neste que é um dos entes mais miseráveis da Federação. Mas não foi nossa filhinha quem teve 95% do corpo queimado, não foi nosso irmão, filho ou pai que sofreu queimaduras em 72% do corpo tentando salvar a menina, não conhecíamos de modo algum a mãe e a irmã bebê da menina, também vitimadas. Que dizer então dos prisioneiros mortos dentro da prisão? Aliás, há muitos brasileiros por aí aplaudindo a barbárie. Que se matem. Bandido não faz falta. E quantos há por aí que se deram conta das consequências da nossa indiferença criminosa a esse estado de coisas? Da falta que nos faz e fará a capacidade de nos sublevarmos como um só, ao invés de deixar a barbárie bestial passar como  um mero incidente?

Nenhuma dessas coisas e de incontáveis outras são fruto da aleatoriedade, do destino implacável e inevitável ou coisa que o valha. São resultado das ações de uma classe de pessoas medíocres, do tipo que pensa que a vida e as outras pessoas lhes deve deferência. 
Pessoas que embora se anunciem como salvadores da humanidade, que apregoem lutar pelos direitos dos "oprimidos", tudo que almejam é submeter a humanidade ao seu tacão autoritário e tornar todos submissos e indivisíveis. Mas não chegaram até onde estão sozinhos. O povo brasileiro a tudo anuiu. Nós nos recusamos a ter responsabilidade sobre nosso destino. Entregamos essa responsabilidade nas mãos dessa gente. Eles nunca esconderam quem eram e o que queriam. Nós optamos por olhar para outro lado, sistematicamente.

Qualquer sociedade digna desse nome tem como norte deixar para sua descendência um ativo moral, ético, cultural, econômico, legal, maior e melhor do que aquele que recebeu.
Não nós brasileiros. Nós não nos importamos. Nós não temos o ânimo de reagir mesmo que estejamos sendo a cada dia mais vilipendiados por um grupo de pessoas que sente um tremendo desprezo por todos nós que só faz aumentar a cada vez em que minam um pouco mais a estrutura da sociedade  já precária que recebemos de nossos pais. 
Somos mortos-vivos, zumbis morais.

O montante de nossas omissões, de nossa apatia moral, está se acumulando, a cada dia mais. A conta há de chegar.

2 comentários:

  1. Quem esconde a cara em manifestações esconde também suas verdadeiras intenções. Quem vai para as ruas usando máscaras são os covardes e baderneiros.
    Fico perplexa ao acompanhar o que anda acontecendo no Brasil com nossa sociedade.
    Essa de bandido cumprir parte da pena por bom comportamento é um absurdo. Se cometer crime deve pagar o tempo integral conforme estabelecido pelo juiz.
    Quanto aos políticos presos por roubo a nação, a maioria com um bom advogado ($$$) também conseguem um jeitinho de amenizar a pena e saírem livres e soltos para viver sua vida no conforto que o dinheiro dos seus atos de bandidagem e desonestidade vai lhe proporcionar.
    Os valores morais e éticos estão sendo modificados por grupos tribais defendidos pelo governo usando das brechas e recursos das leis para se safar. O que tenho visto é desanimador, não se aplica as leis com a devida seriedade. Existem regras feitas para proteger e soltar bandidos e no fritar dos ovos, a maioria sai ilesa.
    No nosso tempo atual, o bandido político se transforma em vítima ou líder que, famoso, acaba rodeado e admirado dos que só conseguem crescer às custa de mamata.
    O pior é que tudo tende a continuar “sob as barbas” e com a incompetência da nossa presidente que, parece que vai continuar eleita pela maioria dos brasileiros pobres que usufruem dos seus programas sociais.

    E viva a Copa (?)

    Bye

    ResponderExcluir
  2. Oi Ana! Esses dias eu falava com uma senhora que eu queria que desse tudo errado durante a Copa do Mundo e pra você ver o nível de alienação das pessoas, ela ficou uma arara, disse que eu não era "patriótica" que torcia contra o time do meu próprio país e nem era de jogo que eu estava falando...
    É daí pra pior. Ouço muita gente que diz que se estivesse no lugar dos políticos fazia a mesma coisa. Por essas e outras que digo que a responsabilidade não é só deles, políticos. Eles têm a cumplicidade de muita gente. Sad but true...

    ResponderExcluir