Hoje é dia do professor. Para todo lado que me viro há algo incitando a que se dê os parabéns a eles. Eu não. Não vejo motivos para dar parabéns aos professores como um todo; apenas a um ou dois que conheço e sei que exercem sua profissão com dedicação e denodo. E com certeza, Brasil afora, há muitos deles assim também.
Mas... Mas, como um todo, não há motivo para se festejar o tal dia dos professores.
Há, sim, motivos de sobra para lastimar, não apenas no 15 de Outubro, mas todos os dias.
Senão, vejamos. Vamos parabenizar os professores pelo quê?
Pelos cerca de 95% de alunos que saem do ensino médio sem saber o básico de Matemática?
Ou pelos 78% de alunos que deixam o ensino médio sem um domínio mínimo de leitura?
Pelos quase 40% que chegam às universidades como analfabetos funcionais?
Não dá. E fica pior quando se pensa que os professores estão sempre prontos a começar uma greve por aumento de salário, por se recusarem a passar por processos de avaliação, por qualquer medida que vise a mudar, um mínimo que seja, a estrutura, mais que inútil, danosa do sistema de ensino brasileiro.
E por falar em sistema, os professores, quando são cobrados, logo acusam o sistema, como se estivessem à parte dele, como vítimas atraídas pelo engodo.
Para os professores, há vários culpados pela péssima qualidade do ensino brasileiro:
O Estado, que remunera mal os professores, que não fornece uma estrutura adequada nas escolas; para ficar só no começo da ladainha.
As famílias, que não educam seus filhos e os mandam para a escola para ser pajeados pelos professores.
Os alunos, que não estão interessados no que os professores têm a ensinar.
Quanto ao primeiro: ser mal remunerado não é desculpa para se entregar um serviço porco. Numa escola particular, o professor que fizer isso ganha o olho da rua. Ou vai, por iniciativa própria, procurar um trabalho que pague melhor. Se tiver competência, consegue.
Os professores da rede pública se escoram no fato de que, uma vez efetivados, é quase impossível demiti-los.
Quanto à estrutura, há escolas, em algumas regiões do país, que a tem muito mais precária e que, no entanto, obtêm bons resultados.
Os pais e mães, por sua vez, já foram "educados" pela ideologia que é mola mestra da porcaria de ensino que temos.
Houve tempo em que a criança ia para a escola com uma clara noção de valores, hierarquia e objetivos. Aí vieram os seguidores e propagadores de Paulo Freire e estabeleceram, entre outros absurdos daninhos, que o mau aluno não deve ser punido, que o aluno que apresenta maus resultados está em pé de igualdade com aquele que tira boas notas; que exigir que o professor seja visto e tratado como autoridade dentro da sala de aula é opressão e perpetuação da dominação das "classes superiores sobre as inferiores"; que o aluno pobre deve ser tratado com condescendência. E aí embute-se um raciocínio extremamente preconceituoso: o aluno pobre é mais incapaz de alcançar bons resultados, apenas por que é pobre.
Crianças e jovens que foram "educados" assim cresceram e tiveram filhos. Se tiraram dos futuros pais as noções de valores, hierarquia e objetivos, tiraram o suporte que pode formar pessoas civilizadas, com o senso de que é sua obrigação exigir bons modos e respeito dos filhos em relação ao ambiente escolar. O resultado é o que temos: alunos que não se interessam pela escola, pois não há mais aquele senso de que a escola é um meio para se chegar a um fim nobre. Alunos que não respeitam o patrimônio escolar, os professores, os colegas, pois escola é só um lugar onde se vai, que, por não servir a um fim objetivo não tem valor nenhum.
É contra esse sistema doentio que os professores deveriam se insurgir, ao invés de disseminar a ideia de que são mártires do ensino. Não são.
São responsáveis, por ação e por omissão, pela tragédia que é o ensino público no Brasil.
Omitem-se, os bons professores que aceitam ser representados, passivamente, pelos sindicatos, onde pululam aqueles que, pela ação, disseminam a ideologia que é a responsável direta por não haver motivos para comemorar o dia dos professores, apenas, lamentar.